Atualizado em 30 de março | 2022 por Ademar Celedônio

Em diálogo com uma diretora de escola particular que atende público de nível socioeconômico alto sobre as consequências de tanto tempo de fechamento das escolas brasileiras na pandemia, ela me relatou que estavam “(…) recebendo candidatos de 6 anos, para o 1º ano, que não diferenciavam letra de número, conteúdo do Infantil 3. Sugerimos cursar o Infantil 5 para minimizar essa lacuna o mais possível”. Um levantamento da ONG Todos pela Educação aponta que o número de crianças de 6 e 7 anos que não sabem ler e escrever cresceu em 66% na Pandemia. O impacto maior é encontrado em alunos da rede pública, infelizmente, mas pelo relato de professores, coordenadores e diretores, cada vez mais me convenço de que o déficit do nível básico de aprendizagem de leitura também está sendo percebido nas escolas particulares, em geral. 

Segundo dados da OCDE (Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico), em nenhum outro país o fechamento das escolas foi tão longo quanto no Brasil e os efeitos desse período começam a aparecer. Com a ida e vinda dos números da Pandemia, praticamente todos os setores produtivos na sociedade foram retomando as atividades com a aplicação dos protocolos sanitários, mas a escola foi a última a reabrir. Percebe-se uma falta de atenção maior das autoridades educacionais do País e, em alguns casos, até excessos nas exigências de sindicatos de professores em alguns estados, que geraram greves e retardaram o retorno. Ressalto, porém, o excelente trabalho do CNE – Conselho Nacional de Educação, cujas resoluções normativas nortearam o desenvolvimento de soluções para a educação brasileira nesse período tão desafiador para todos.  

Com os planos de vacinação para todos os brasileiros acima de 5 anos de idade, a tendência é uma reabertura segura para alunos e professores, com o cumprimento dos protocolos sanitários, salvo para os casos dos estudantes com alguma restrição médica. É possível, sim, mitigar os prejuízos apontados pelos baixos indicadores de aprendizagem. Aprender a ler é sempre desafiador, o momento mais importante que implicará no desenvolvimento global da formação de cada indivíduo. 

E por onde começar? Para alunos de educação infantil, a escola pode optar pela realização de atividades e brincadeiras com intencionalidade pedagógica e fazer uma relação com os direitos de aprendizagem e desenvolvimento, além dos campos de experiência, como, por exemplo, “corpo, gestos e movimentos”, “traços, sons, cores e formas”, “escuta, fala, pensamento e imaginação”. Por meio dessas observações, a instituição pode traçar estratégias que estimulem o pleno desenvolvimento dessas habilidades nos pequenos.

Para alunos do Ensino Fundamental, um caminho é verificar o aprendizado dos alunos nas Habilidades da BNCC (Base Nacional Comum Curricular) que foi concebida com a ideia de uma progressão das habilidades entre as séries, por exemplo, dentro do eixo de números da matemática é abordado, no 2o ano do Ensino Fundamental, o conceito de soma e subtração; no 3o ano, acrescenta-se o de multiplicação; no 4o ano, o de divisão; no 5o ano, o conceito básico de frações. Pode-se utilizar avaliações diagnósticas com itens progressivos para um aluno do 5o ano e tentar medir cada uma dessas habilidades. Uma vez diagnosticado algum problema de aprendizagem, um plano de ação deve ser traçado para tentar resolver as lacunas encontradas. Nesse momento, o uso da tecnologia de uma plataforma é fundamental para dar maior celeridade na compilação de dados e na construção de planos de estudo individuais. O exemplo foi de Matemática, porém é possível aplicar o mesmo conceito em todas as disciplinas. Os desafios para os educadores nos próximos anos serão enormes, principalmente para que sejam garantidos o acolhimento e a segurança necessários a todas as crianças na assimilação dos conteúdos.