Atualizado em 27 de janeiro | 2021 por SAS

A jornalista e também educadora Anna Penido, hoje diretora do Instituto Inspirare e uma das especialistas de Educação mais atuante no país, esteve presente conversou conosco sobre BNCC, o significado das competências gerais e como elas vão impactar em outros aspectos da nossa educação. Confira a entrevista:

Qual a importância do desenvolvimento das competências gerais para o aluno?

As competências gerais da BNCC foram construídas com referência nas principais discussões que hoje acontecem nacional e internacionalmente sobre o que os estudantes precisam aprender para estarem prontos para dar conta dos desafios da sociedade contemporânea. Todas aquelas dez competências estão vinculadas a questões relacionadas a vida em sociedade, vida profissional, questões relacionadas a responsabilidade socioambiental, questões socioemocionais demandadas para que as pessoas possam lidar melhor com seus projetos de vida, relações, desafios no nível pessoal, profissional e cidadão. Elas são de fundamental importância para que a gente realmente possa formar as novas gerações não apenas para realizarem suas novas expectativas, mas também contribuírem para a construção de uma sociedade mais justa, democrática, sustentável, inclusiva, solidária. Essa é a sociedade que queremos fato construir.

Quais recursos, ferramentas, o professor deve utilizar para pô-las em prática na sala de aula?

Muitas dessas competências já vêm sendo desenvolvidas por professores e escolas às vezes de maneira não intencional, não tão sistemática, não tão universal, mas já temos muito indicativos de como trabalhá-las por conta de experiências práticas que já estão em uso. O mais importante é de fato as redes e escolas e professores terem um tempo de compreender todos os conhecimentos, habilidades, atitudes e valores que estão vinculados a cada uma dessas competências e poder, de fato, pensar em práticas que certamente serão muito mais interativas, mão na massa, vivenciais para o desenvolvimento dessas competências. Também é importantíssimo que a gente entenda que ainda não temos muitos materiais, ferramentas disponíveis para isso. Portanto, vamos precisar de uma força tarefa de desenvolvedores, editoras, especialistas, organizações sem fins lucrativos no sentido de desenvolver tanto esses materiais quanto orientações mais claras que possam de alguma forma referenciar o desenvolvimento de práticas pedagógicas alinhadas e efetivas para o desenvolvimento dessas competências.

Será fácil para o professor trabalhar todas as competências em todos os componentes curriculares? Ou há uma ou outra que não se encaixa em algum componente?

É muito importante que não haja uma forçada de barra de querer que todas as competências sejam desenvolvidas por todos os componentes com a mesma intensidade. É importante aproveitar o potencial de cada componente curricular para contribuir com as competências gerais, mas tendo também essa abertura para um pensamento mais criativo, para possibilidades inusitadas, para a gente pensar um pouco fora da caixa e identificar realmente os potenciais de todos os componentes ainda que nessas intensidades diferenciada para cada competência.

Qual a obrigação do professor nesse momento de implantação da Base?

Ao professor, nesse momento de implantação, cabe conhecer profundamente tanto a própria BNCC quanto o currículo da sua rede, da sua escola, para compreender primeiro o todo da proposta curricular e depois o que é esperado dele próprio para que fique claro para ele o que precisa desenvolver de conhecimentos, habilidades, atitudes e valore nos seus alunos para que eles possam pensar em novas práticas pedagógicas, novos recursos didáticos, para que consigam dar conta dessas novas entregas, novas competências e habilidades que ele vai precisar desenvolver. Cabe a ele compreender a relevância dessa nova proposta curricular para que não se sinta nem descompromissado nem impossibilitado de realizar as mudanças necessárias. Cabe a esse professor mergulhar nesse universo, mas não como um profissional isolado, como um grupo, uma equipe docente, que vai pensar junto, planejar junto e construir de forma complementar para o alcance dos objetivos comuns.

Como os materiais didáticos devem ser elaborados para que atendam ao desenvolvimento das competências? 

É superimportante que eles se voltem mais para criar, proporcionar vivencias pedagógicas do que simplesmente entregar conteúdos; é importante que eles fomentem essa articulação entre os componentes curriculares e as competências gerais. É fundamental que eles estimulem práticas pedagógicas mais interativas, mais participavas, mais mão na massa, que se adequam mais ao perfil do estudante e se permita, com mais facilidade, o desenvolvimento das competências gerais. Eles devem ser construídos em plataformas multimídias que permitem o uso de diferentes recursos para oferecer as melhores vivências pedagogas para os estudantes. E é muito importante que esses materiais não se furtem a discutir temas que podem parecer controversos, mas que são fundamentais para a preparação das novas gerações para a vida no século XXI. Por fim, que sejam materiais que considerem os contextos, os interesses, a realidade dos próprios estudantes, para que eles se sintam convidados, identificados, estimulados por esses materiais, e ai nesse sentido é fundamental que a tecnologia também esteja presente, uma vez que é tão potente na vida dos alunos.