Atualizado em 25 de setembro | 2020 por
Meses após o início da pandemia, que obrigou escolas de todo o mundo a fecharem suas portas, instituições de ensino começam, aos poucos, a retomarem suas atividades. No Brasil, que segue com a paralisação do ensino presencial em escolas públicas e privadas, gestores escolares precisam estar atentos para realizar a volta às aulas presenciais com segurança.
A pandemia trouxe impactos consideráveis para Educação Básica. Com o fechamento das escolas de todo o país, decretado em março deste ano, as instituições precisaram se reinventar e aplicar o ensino remoto como uma forma de dar continuidade às atividades escolares. Como era de se esperar, este cenário tem sido muito desafiador para professores, alunos e familiares. No entanto, cerca de dois meses depois, as escolas agora enfrentam mais um desafio: muitos municípios e estados do Brasil começam a considerar a volta às aulas presenciais, levantando questionamentos sobre quais seriam as boas práticas para tornar isso possível sem comprometer a segurança de seus estudantes e funcionários.
Ao longo dos últimos meses, alguns países ao redor do mundo começaram a reabrir gradualmente suas escolas, adotando medidas de segurança, bem-estar e distanciamento social que têm se mostrado bastante satisfatórias diante do atual contexto da COVID-19. Segundo levantamento do instituto norte-americano Learning Policy Institute1, que compila informações preliminares de diretrizes de saúde e segurança adotadas por cinco países (China, Dinamarca, Noruega, Singapura e Taiwan) em três frentes (frequência, distanciamento social e higiene), o sucesso das iniciativas está intimamente relacionado à capacidade desses países de testar e acompanhar casos da doença, e de isolar demais indivíduos que tenham sido expostos ao coronavírus.
Além desses países, outra nação da Europa que merece destaque na estruturação do pacote de medidas para a volta às aulas presenciais é Portugal. O governo português criou um manual de recomendações2 e tem realizado inúmeros procedimentos para orientar as escolas neste processo, o que tem elevado consideravelmente o nível de confiança da população, com relação à retomada.
Após meses de isolamento, professores, crianças e pais precisam lidar com o medo de retornar. Por isso, as escolas ao redor do mundo têm restabelecido suas atividades aos poucos, com quadro e horários reduzidos. As dificuldades e preocupações não param por aí. Como esses países fizeram ou pretendem fazer para garantir que crianças, que tem um nível de convivência social muito grande, se adaptem a este novo modelo de escola? Áreas de convivência em comum devem ser reabertas? As perguntas são muitas.
Embora o Brasil viva algumas condições relacionadas à pandemia bem distintas de cada um desses países, as experiências e medidas adotadas por eles apresentam um panorama sobre os protocolos que gestores precisam considerar e responder, antes de começarem a pensar em estruturar a volta às aulas presenciais de suas escolas, minimizando os riscos de saúde mental para os alunos e evitando que a escola se torne um ponto de contágio para toda comunidade escolar.
Nesse sentido, vale destacar 10 (dez) pontos de atenção:
- Todos os alunos devem retornar ao mesmo tempo ou as datas de início variam de acordo com o nível da série ou necessidades específicas?
Essa é uma questão fundamental, e a segurança e o bem-estar dos alunos e funcionários precisaram estar no centro da tomada de decisão. Na Dinamarca, primeiro país da Europa a reabrir as escolas, o processo foi feito em fases. Primeiramente, apenas crianças menores de 12 anos puderam retornar às atividades presenciais, enquanto as demais idades permaneceram com o ensino remoto. A decisão do país levou em consideração o nível de dependência escolar dessa faixa etária, que não se beneficiava tanto do ensino virtual, bem como o fato de se enquadrar em um grupo de menos risco quando exposto ao vírus. Assim como a Dinamarca, Holanda e França também reabriram as escolas com Educação Infantil e Ensino Fundamental anos iniciais, em uma primeira fase. Portugal, por sua vez, optou por retomar as aulas com o Ensino Médio.
- O aprendizado na escola deve ser combinado com o ensino remoto para reduzir a quantidade de pessoas no ambiente escolar?
Combinar ensino remoto e ensino presencial pode e deve ser levado em consideração pelas escolas para uma reabertura, uma vez que permite que as atividades sejam restabelecidas gradualmente e sem gerar aglomerações entre as diferentes faixas etárias.
- O que é uma expectativa de distanciamento físico viável, porém seguro?
Para garantir um distanciamento social seguro em sala de aula, muitas escolas estabeleceram novos limites de alunos por sala e novas distâncias entre as carteiras. Na Dinamarca, o número de alunos por sala foi reduzido, de forma a garantir um distanciamento de, no mínimo, 2 metros entre um e outro. Em Singapura, por sua vez, as salas são normalmente grandes o suficiente para um distanciamento de 2 a 3 metros por aluno. Já Portugal dividiu grupos de alunos por turno, dobrando a carga horária e a remuneração dos professores.
- Como as refeições na escola passarão a ser feitas?
Em linhas gerais, recomendações são de que todos lavem as mãos antes das refeições e que alunos respeitem as regras de distanciamento dentro das salas de aula. Algumas práticas, como trocar alimentos e utensílios, devem ser proibidas. Em algumas escolas da China e da Coréia do Sul, divisórias de vidro foram instaladas entre uma mesa e outra para as refeições, a fim de evitar a transmissão do vírus, uma vez que é nesta hora que as crianças retiram suas máscaras.
- Como as escolas pretendem diminuir aglomerações?
As escolas precisam fazer o possível para evitar aglomerações em suas dependências. Dessa forma, são encorajadas a criar escalas de seus horários de início e de término, estabelecendo, também, rotas para as salas de aula com várias entradas, para evitar que alunos e famílias acabem se aglomerando. Nesse sentindo, professores também não devem utilizar a sala dos professores antes, nos intervalos e após as aulas, devendo permanecer, apenas, em sala de aula. Outra estratégia utilizada pelas escolas é dividir o horário de chegada por série, criando marcas no chão que indiquem onde cada turma deve esperar, antes de entrar nas dependências da escola.
- As escolas precisarão checar as temperaturas dos alunos regularmente?
Experiências de países que já retornaram às suas atividades escolares mostram que sim. Para alguns, a temperatura pode ser checada até duas vezes ao dia. Outros, por sua vez, optaram por checar a temperatura dos alunos, apenas, na chegada à escola. Ainda no tópico testes, Portugal realizou testes de COVID-19 em todos os seus professores de creches e Educação Infantil, antes de permitir que eles retornassem às salas de aula.
- Procedimentos de quarentena devem ser adotados para alunos sintomáticos?
Para esta questão, não há um padrão definido. Países como Noruega e Dinamarca pedem que alunos sintomáticos permaneçam em casa entre 1 a 2 dias, respectivamente. A China, por sua vez, exige que alunos com sintomas permaneçam em casa até os sintomas desaparecerem. Em Singapura, a lei do país exige quarentena para qualquer um que tenha tido contato com uma pessoa sintomática e, caso a escola tenha algum caso confirmado, ela é imediatamente fechada e higienizada. Já para Taiwan, se houver um caso confirmado de COVID-19, a classe toda é suspensa por 14 dias. Além disso, se houver dois ou mais casos confirmados, a escola toda deve suspender suas aulas por 14 dias.
- Como deverá ser feita a limpeza dos objetos e ambientes, e a utilização de máscaras nas escolas?
A recomendação aqui é: limpeza contínua de objetos e superfícies tocadas constantemente, como corrimões, mesas e maçanetas de porta, por exemplo. Limpeza desses objetos a cada 2 horas pode ser um bom parâmetro. Áreas comuns também precisam ser limpas com frequência, entre duas e quatro vezes ao dia. Tablets e computadores, por outro lado, precisam ser higienizados sempre logo após o uso. O uso de máscaras, por sua vez, tem se mostrado bastante eficaz na prevenção ao coronavírus. Por isso, muitos países recomendam utilização por tempo integral para professores, assim como para alunos a partir de 3 anos. Entretanto, países como a Dinamarca e a Noruega vão de encontro à essa recomendação, não exigindo o uso de máscaras pelos estudantes.
- Pais de alunos poderão transitar na escola?
Muitos países têm aplicado medidas mais duras para restringir a aglomeração no ambiente escolar, como impedir a entrada de pais e responsáveis dentro de suas unidades.
- Com relação à saúde mental dos alunos, que medidas podem ser tomadas?
Além de certos protocolos para a volta às aulas presenciais, as escolas também vão precisar ficar atentas às questões e competências socioemocionais, estabelecendo um ponto de apoio para professores, pais e alunos. A volta às aulas, provavelmente, vai desencadear uma onda de ansiedade e expectativa muito grande por parte de todos os agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem, uma vez que vão estar vivendo um momento totalmente novo. Nesse sentido, as escolas vão precisar dedicar atenção redobrada em esforços de longo prazo, que auxiliem os alunos a se reconectarem com a escola e com seus pares, e que ajudem o professor a lidar com toda a carga emocional envolvida no retorno.
A sociedade como um todo ainda está aprendendo a lidar com os efeitos da pandemia. Aqui no Brasil, em resposta à crise, o Conselho Nacional de Educação (CNE) aprovou, no dia 28 de abril, a proposta que legaliza a oferta de atividades não presenciais em todas as etapas de ensino, como diretriz para a reorganização do calendário escolar de 2020. Ao analisar o contexto de retorno às aulas presenciais, o CNE recomenda que, na volta, as escolas apliquem uma avaliação diagnóstica de retorno, para tentar identificar quais habilidades essenciais foram aprendidas, ou não, durante o período de isolamento e ensino remoto.
Enquanto respostas mais concretas não chegam, e o Brasil não desenvolve seu próprio manual de retorno às aulas presenciais, com diretrizes e recomendações específicas para a nossa realidade, seguimos nos espelhando e aprendendo com quem já está começando a entender, aos poucos, como será a Educação Básica do pós-pandemia.
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