Atualizado em 23 de setembro | 2024 por Jessica Harume

Gestor escolar, o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) é uma prática utilizada na sua escola para a promoção da educação inclusiva?

Ao longo desse post, a especialista em educação inclusiva, Jessica Harume, contextualiza o cenário da educação inclusiva e nos apresenta maneiras de aplicar essa abordagem no dia a dia escolar.

Confira:

Os desafios da educação moderna

No cenário educacional contemporâneo, professores têm lidado com o desafio de administrar o ensino e a aprendizagem em uma sala de aula tão diversa, seja em termos de interesse de cada estudante, modelos de aprendizagem, necessidades biopsicológicas ou contexto socioemocional.

A dificuldade em atender às necessidades de estudantes com deficiência, transtornos do neurodesenvolvimento e altas habilidades/superdotação é frequentemente atribuída à falta de formação. Isso pode ser um dos fatores, mas devemos refletir além:

Que tipos de estudantes queremos? Que tipos de estudantes podemos ensinar? Existem modelos de estudante?

O que é Desenho Universal para a Aprendizagem?

Nesse sentido, o Desenho Universal para a Aprendizagem (DUA) se apresenta como uma abordagem inovadora que busca criar ambientes de aprendizagem flexíveis e inclusivos, baseando-se nos avanços das neurociências e em práticas pedagógicas modernas.

Esta abordagem não apenas reconhece as diferenças individuais nas formas de aprender, mas também transforma a maneira como o currículo, os métodos e as avaliações são planejados e implementados.

Um pouco sobre a origem do DUA

O Desenho Universal para a Aprendizagem surgiu nos Estados Unidos na década de 1990 para responder às necessidades de um número expressivo de estudantes que demonstravam dificuldades de aprendizagem, particularmente entre grupos vulneráveis, como os estudantes com deficiência e os alunos com altas habilidades/superdotação.

Essas dificuldades na aprendizagem surgem de um currículo inflexível e de barreiras para a aprendizagem. Portanto, o DUA surge como uma proposta que considera a diversidade das formas de aprender desde o planejamento do ensino.

Princípios do Desenho Universal para a Aprendizagem

Essa diretriz é fundamentada em três princípios, que refletem a complexidade do processo de aprendizagem:

I. fornecer múltiplos meios de apresentação;

II. proporcionar múltiplos meios de ação e expressão;

III. oferecer múltiplos meios de engajamento.

Estes princípios estão interligados e visam atender à variabilidade natural dos estilos e necessidades de aprendizagem dos estudantes.

Oferecendo múltiplos meios de apresentação, por exemplo, os educadores podem utilizar textos com diferentes tamanhos e contrastes, imagens, vídeos acessíveis e materiais táteis para atender a diversos estilos de processamento cognitivo.

Da mesma forma, múltiplos meios de ação e expressão permitem que os alunos demonstrem seu conhecimento por meio de projetos, apresentações e produções artísticas, em vez de apenas atividades tradicionais escritas. O engajamento dos estudantes pode ser estimulado pela escolha de desafios, autorreflexão e elaboração de metas.

Para entender esses princípios, considere um exemplo da arquitetura: uma escada pode ser uma barreira para pessoas com mobilidade reduzida, enquanto uma rampa é acessível a um público mais amplo. Da mesma forma, o Desenho Universal para a Aprendizagem busca remover barreiras educacionais, propondo que o currículo seja inclusivo desde o início (O DUA é a rampa!).

Esse planejamento antecipado não só economiza tempo e recursos, como também promove uma educação mais equitativa e eficiente.

No Brasil, as políticas que direcionam os princípios da educação inclusiva muitas vezes atendem a um público específico. Dessa forma, elas causam uma falta de direcionamento quando falamos da pluralidade da sala de aula, considerando qualquer estudante além dos laudos médicos.

O que diz a BNCC?

A Base Nacional Comum Curricular (BNCC) reconhece a importância de uma educação que respeite e valorize a diversidade dos estudantes. A BNCC enfatiza a necessidade de uma educação integral que abranja todas as dimensões do desenvolvimento e promova um ambiente de respeito e valorização das diferenças. Esse alinhamento com o DUA reflete um compromisso com uma educação que não apenas acolhe, mas celebra as singularidades dos estudantes.

As práticas pedagógicas pautadas no DUA no Brasil ainda são limitadas, mas o cenário do último Censo Escolar mostra que precisamos mudar. A demanda para atender estudantes com deficiência, transtorno do espectro do autismo e altas habilidades/superdotação cresceu, mas não temos dados que mostrem outras especificidades biológicas que aparecem no contexto escolar.

Precisamos de professores formados para identificar as necessidades pedagógicas

Entretanto, a reflexão que fica é: precisamos colocar todos os alunos em “caixas de laudos” para responder as suas necessidades no contexto escolar? A ideia é que não! Precisamos de professores formados para identificar as necessidades pedagógicas e intervir, utilizando diferentes recursos, materiais e tecnologias para planejar e executar uma aula para todos.

Em suma, o Desenho Universal para a Aprendizagem representa um avanço significativo para uma educação mais inclusiva e equitativa. Assim, iniciando o processo de ensino pautado nas diversas necessidades dos estudantes e criando um ambiente mais acolhedor.

No entanto, ainda vivemos na sombra do medo do desconhecido, muitas vezes bloqueando e prejudicando o progresso de cada estudante. A verdadeira inclusão exige uma revolução na prática pedagógica e um enfrentamento das barreiras institucionais e ideológicas.